Curiosidades
Viajando com os antigos romanos
No século V a.C., Marco Agripa, herói de guerra romano, convocou os mais eminentes cientistas e lhes forneceu arquivos com coordenadas do Exército Imperial. Seu objetivo? Fazer um meticuloso levantamento de todos os domínios de Roma. O resultado: o Mapa de Agripa, de uma exatidão sem precedentes, retratando rios, cadeias de montanhas, portos, cidades... Mas foram as estradas, que se estendiam feito artérias até os cantos mais remotos da civilização, e as rotas de navegação, se entrecruzando sobre o azul do Mar Mediterrâneo, que tornaram tal mapa notavelmente moderno. Era o impulso que faltava aos romanos para dar início ao que, a partir de então, seria chamado de turismo.
As revelações são de Tony Perrottet, em Férias pagãs – Na trilha dos antigos turistas romanos. Para ele, a pesquisa acerca do tema significou o começo de um roteiro inusitado: seguir os passos desses viatores ou peregrinatores, nomes dados aos viajantes da época. Com o trunfo de Agripa em mãos, “não só era possível localizar facilmente um lugar famoso – digamos, o Colosso de Rodes ou as ruínas de Tróia –, mas também determinar a que distância ficava de Roma e a melhor rota de viagem para chegar até lá”. Perrottet dirigiu-se então para Roma, Nápoles, Grécia e ilhas do Mar Egeu e fez um minucioso relato que mescla presente e passado, sempre com boas doses de humor e ironia.
Com mais de 400 páginas, o livro traz uma série de informações sobre o modo de vida dos antigos e os locais percorridos. Conta, por exemplo, que a maioria dos turistas pioneiros era jovem (entre 20 e 30 anos) e tinha uma tendência estudiosa. “Faziam pesquisas para monografias enquanto estavam em suas jornadas – sobre religião, arte, astronomia ou história”. Os viajantes costumavam se ausentar por dois a cinco anos de sua terra natal e, nesse percurso, “visitavam templos luxuosos – equivalentes aos nossos museus modernos, repletos de maravilhosos artefatos”.
Atenas era uma das atrações mais cobiçadas, considerada “o altar da alta cultura”. Um local abençoado pela natureza, “com panoramas que se estendiam até o mar cintilante”, e aprimorado pela arte dos gregos. Eram tantas estátuas que alguns visitantes costumavam dizer que a cidade tinha “uma segunda população de mármore, toda pintada de cores alegres, com olhos de marfim e íris detalhadas para dar expressão aos rostos”. Perrottet narra suas peripécias para conferir de perto como sobreviveram os inspiradores templos e esculturas.
Já em Pompéia, ele relata que, em meio a dúzias de pessoas, se viu “vasculhando as paredes em busca de antigas gravuras de órgãos genitais masculinos, que outrora indicavam o caminho dos bordéis para marinheiros”. Trata-se de um ritual turístico importante nesse célebre porto romano, soterrado por uma chuva de cinzas vulcânicas em 79 d.C.
Após tantas curiosidades a respeito de costumes, tradições e personalidades históricas (há três apêndices que contextualizam o leitor), percebe-se que os excursionistas romanos não eram tão diferentes assim dos atuais. Recorriam a guias turísticos para poder ver de perto o cabelo em forma de serpente de Medusa ou a espada de Ulisses e, se fosse necessário, hospedavam-se em estalagens de beira de estrada. Os destinos mais disputados? Grécia, Ásia Menor e Egito, eleitos como “as terras amadas dos eruditos”. Assim como continuam sendo até hoje, segundo o autor.