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Especial DVD

O sentido da vida

Um homem tem o direito de querer dar fim à própria vida? O  espanhol Ramón   Sampedro,   que  inspirou   o   filme
Mar adentro, teve sua juventude interrompida por um acidente de mergulho nas águas da  Galícia. Ficou  tetraplégico  e preso a uma cama durante quase 30 anos. Apesar de ser um sujeito vivaz e cercado de amor – ou justamente por amar tanto a vida –, tudo o que ele desejava era acabar com o seu sofrimento e morrer de forma digna.

Mesmo tendo a morte como tema central, Mar adentro consegue ser leve e iluminado, o que se deve essencialmente à postura positiva do personagem. Sem exageros de dramaticidade, o espectador acompanha com interesse crescente o dia-a-dia e a luta de Ramón em defesa da eutanásia. Para ele, somente alguém que o ama de verdade será capaz de ajudá-lo a realizar sua última viagem. Ao seu redor, estão o irmão, a cunhada, o sobrinho e o pai – todos muito zelosos, mas cada qual com uma opinião diferente a respeito de seu objetivo. Duas mulheres também adentram seu mundo: Julia, advogada que o apóia em sua causa, e Rosa, uma vizinha que tentará convencê-lo de que viver vale a pena.

O desafio de interpretar o protagonista desta história verídica coube a Javier Bardem, um dos maiores atores espanhóis da atualidade. Ele teve de aprender a falar com sotaque galego e compor um tipo totalmente diferente do seu, com o corpo deformado pela imobilidade. O irretocável trabalho lhe valeu a indicação ao Globo de Ouro e o prêmio de melhor ator em Veneza. Além disso, o longa-metragem venceu merecidamente o Oscar 2004 de melhor filme estrangeiro.

Ao comentar a escolha de Javier Bardem para o papel, o diretor Alejandro Amenábar declarou que o considera um “monstro da interpretação”, capaz de fazer o público esquecer o ator por trás do personagem, com sua atuação tão realista. “Nos deixamos levar pelo carisma e pela personalidade de Ramón, começando por Bardem. Essa era a contradição de Ramón: que alguém tão vital e que se dava tão bem com todos perseguisse a morte”, declarou Amenábar. É dele também a definição mais precisa de Mar adentro: “Uma visão da morte a partir da vida, do cotidiano, do natural, a partir de um lado muito luminoso”.