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Especial DVD

Uma aventura nada convencional

Por trás de uma aparente seriedade e até uma certa arrogância, o oceanógrafo e explorador Steve Zissou, protagonista  de  A vida marinha com Steve Zissou, se revela uma figura atrapalhada e excêntrica, mas de uma ingenuidade adorável. Qualquer semelhança com o pesquisador Jacques  Cousteau,  a  quem   o   filme   foi   dedicado,  é realmente   coincidência.   Em  seu   quarto   longa-metragem,   o diretor norte-americano Wes Anderson mantém o estilo controverso que o caracteriza e diferencia do padrão hollywoodiano, com doses equilibradas de humor sutil e irônico.

A idéia é original: mostrar a montagem de um documentário – na verdade, uma sátira –, convidando o espectador a testemunhar a última aventura de Zissou, cujo objetivo é perseguir um raro tubarão-jaguar que devorou seu melhor amigo e fiel companheiro, Esteban. A “vingança”, porém, acaba servindo apenas como ponto de partida para os divertidos conflitos e situações que envolvem os tripulantes do Belafonte, navio da Segunda Guerra que leva a Equipe Zissou pelos mares mais inóspitos. Os tipos bizarros e suas engraçadas improvisações constituem um dos ápices da filmagem. Honras ao elenco, que conta, nos papéis principais, com Bill Murray, Anjelica Huston e Owen Wilson – três dos atores prediletos de Wes, que inclusive participaram de seus trabalhos anteriores: Pura adrenalina (1996), Três é demais (1998) e Os excêntricos Tenenbaums (2001). Ressaltam-se também as interpretações de Cate Blanchett, Willem Dafoe e Jeff Goldblum.

Um destaque especial para o público brasileiro é a presença do cantor Seu Jorge no papel do “especialista em segurança” Pelé dos Santos – o nome é uma homenagem aos jogadores Pelé e Manoel Francisco dos Santos, vulgo Garrincha. Seu Jorge vira e mexe entra em cena com seu violão, cantando suave e melodiosamente, em português, trechos das adaptações livres que fez de músicas de David Bowie.

Indicada ao Urso de Ouro no último Festival de Berlim, a trama sugere um clima retrô e segue em tom surreal, sarcástico e ao mesmo tempo refinado. Num contraste inesperado com o ar científico que o filme exibe inicialmente, as seqüências são as mais estapafúrdias. Os efeitos também são fantasiosos, deixando claro que se trata de fatos e criaturas imaginários, como os peixes animados, de intenso colorido. As cores vibrantes, aliás, saltam aos olhos, assim como a beleza das paisagens filmadas na Itália. Uma viagem surpreendente e única em todos sentidos.