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Guarda-toda

Ficou horas e dias pensando num lugar para guardar aquela preciosidade toda. Precisava ser um local seguro, limpo e grande, bem grande. Prateleiras e adesivos eram dispensáveis, já que classificar coisa por coisa daria um trabalho enorme e poderia pôr tudo a perder se fossem, por exemplo, dados os nomes certos aos bois errados - e vice-versa.

-- Bote aqui mesmo, no meio da sua sala, mas tome o cuidado de cobrir com um lençol branco, para proteger da poeira e dos raios de Sol que invadem pela janela e fazem desbotar as cores. - disse sua consciência.

-- Sim, pode ser, mas eu estou de saída, o mundo me chama lá fora. Não é arriscado deixar tudo aqui sem poder trancar a porta? - respondeu Joana, com o semblante caído dos que se preocupam.

-- Que nada, você não tem a cópia dessa relíquia? Eu sei que sim, e onde ela está não há como a roubarem, ou a levarem embora. Nem que tentem seguir as pistas mais óbvias, nem que descubram seu esconderijo e ameacem arrombá-lo.

Neste momento, o sorriso da moça se esticou numa medida que cobriria de Erechim a Bahia.

-- Mas, o que estou dizendo, disso você já sabe. Ao menos deveria. - complementou a consciência no costumeiro tom de professora.

A moça concordou com os olhos e começou a juntar cada detalhe na caixa transparente que sua casa acomoda. Apesar de respeitar as opiniões de sua consciência, sentiu uma vontade trêmula de dispensar qualquer tipo de proteção e oferecer seus pertences a quem interessa. Restava saber se seria doação ou troca. Num suspiro, ela mesma obteve a resposta: "Não importa."

Quinta-feira, Agosto 17, 2006