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tododiaelafaztudosempreigual

Ro era tímida.
Tina lhe ensinou que desinibição pode ser alcançada com fraude e treino.

Ro começou a se soltar mais e a se sentir bem na fita. Mas ficava ruborizada cada vez que fazia algo que não combinava com sua maneira.
Tina lhe emprestou uma base para passar na cara e disfarçar a vermelhidão involuntária.

Ro, livre e leve que só, agora sempre maquiada, reclamava da vida e do trabalho, aquela mesmice que não dava vontade de levantar da cama.
Tina lhe passou uns truques engana-chefe, tipo fingir que está produzindo quando se está lixando a unha debaixo da mesa, e no fim de semana convidou prum samba com muita cerveja e xiboquinha.

Ro agora ria alto, tinha o rosto sempre pintado, dava calote no trampo e fazia show diante de uma cuíca.
Tina ouviu de um empresário do carnaval que a garota levava jeito pra madrinha da bateria e resolveu ser sua manager.

Ro concordou (já se via de fantasia, rainha) e foi pra avenida. Seus pés chegaram a sangrar mas a escola foi rebaixada.
Tina sumiu do mapa.

Ro estava, então, desempregada.
Tina, que não havia voltado, ainda levara embora consigo o aparelho celular que tinha dado de presente de Natal a Rosaninha.

Ro, tempos depois, esqueceu de quem foi um dia. Apesar de consultar o espelho todas as manhãs e ver sempre os mesmos olhos. (Só o brilho que se perdia, dia a dia.)
Tina mandou avisar que se mudou pra Alfenas. Mas dizem que se lançou na estrada. Usou o dom do tarô e hoje vive de paragem em paragem, à procura de outras companhias como Ro, de quem nunca mais quis saber notícia. Só não podia deixar de lembrar da amiga porque toda vez que ia passar rímel se dava conta de que ele tinha ficado nas coisas dela, especificamente naquela bolsinha. E repetia: -- Ela vai ver... Rosana... Maldita...

Quarta-feira, Fevereiro 22, 2006