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Curiosidades

De onde vieram esses heróis?

Grandes personagens, como James Bond, Lolita, Mary Poppins e O Pequeno Príncipe, povoam o imaginário de milhões de leitores. E, sem dúvida, muitos fãs já devem ter se perguntado como seus autores – Ian Fleming, Vladimir Nabokov, P. L. Travers e Antoine de Saint-Exupéry, respectivamente – criaram e deram vida a esses seres que se tornaram clássicos da literatura universal.

Madame Bovary, c’est moi!, de André Bernard, vem satisfazer um pouco dessa curiosidade. “É um relato anedótico da gênese, do batismo e (às vezes) do rebatismo de personagens ficcionais notáveis”, define o autor. “Um passeio pelas vidas e pelas imaginações de alguns dos maiores escritores do mundo no momento em que lutavam para encontrar o nome certo, ou simplesmente a motivação certa para os heróis e heroínas de seus contos e romances.”

Dividido em textos breves e objetivos, o livro surpreende não só pelas informações, como pela maneira leve e divertida com que as apresenta. Conta, por exemplo, que Alice no País das Maravilhas começou a ser composta por Lewis Carroll (na verdade Charles L. Dodgson) durante um percurso pelo rio Tâmisa, com o intuito de entreter algumas crianças que estavam no barco. Entre elas estava Alice, que, anos depois, seria “reverenciada por seu lugar acidental na história da literatura e cortejada por príncipes”.

Caso ainda mais admirável é o de O iluminado, de Stephen King, famoso no cinema pela interpretação aterrorizante de Jack Nicholson como Jack Torrance. King se pegou zangado além do normal com os filhos algumas vezes e ficou perturbado com suas próprias reações. Daí teria imaginado Torrance, um pai que enlouquece e tenta matar a família. Já os terríveis Dr. Jekyll e Mr. Hyde, de O médico e o monstro, surgiram na mente de Robert Louis Stevenson por meio de sonho.

A leitura é salpicada de frases interessantes, proferidas por diversos escritores, como a de Lillian Hellman (autora de As pequenas raposas): Não acho que personagens acabem do jeito que você acha que eles vão acabar. Eles nem sempre seguem o caminho que você quer. Pelo menos os meus não. Há também ditos reveladores, como o do polêmico William Burroughs, que escreveu, entre outros, Junky e Queers: Muitos de meus personagens apareceram pela primeira vez fortemente para mim como vozes. É por isso que uso um gravador.

O título do livro, aliás, vem de uma declaração de Gustave Flaubert, autor de Madame Bovary. O romance baseou-se numa tragédia conjugal real e fez Flaubert livrar-se de uma profunda depressão causada pela incapacidade de progredir em seus escritos. “Mas por oito anos o artesão da prosa lutou com sua narrativa”, relata Bernard. E, assim como ocorreu com outros escritores, preferiu manter certo suspense sobre sua inspiração, comentando que nada do que escreveu nessa história é verdadeiro.

De qualquer forma, na literatura, mais valem personagens convincentes do que a trama em si. Como bem observou a escritora Virginia Woolf, se os personagens forem verdadeiros, o livro terá uma chance. Quem melhor do que o leitor para comprovar isso? Boas pistas não faltam em Madame Bovary, c’est moi!