Curiosidades
A paixão através dos tempos
Em Paixões – amores e desamores que mudaram a história, a jornalista e escritora espanhola Rosa Montero “nomeia o caos”, como ela mesma observa. Isso porque, segundo a autora, definir o amor e a paixão é tarefa das mais difíceis. “Quando nos referimos ao amor em si (...), não falamos da emoção imprecisa e ampla que engloba os filhos e os amigos, mas sim do chamado amor sentimental entre duas pessoas. Tal amor singular subjaz à idéia da paixão, e é de paixões que trata este livro”, explica. “São histórias luminosas ou terríveis de personagens mais ou menos célebres, casais da Antiguidade ou contemporâneos que chegaram a tocar o céu e o inferno.”
A obra reúne textos publicados no jornal El País entre os anos de 1997 e 1998. O enfoque, apesar de embasado em pesquisas, segue o olhar apaixonado e subjetivo da escritora. “Dentro dos limites que esses fatos impõem, faço uma interpretação, ou, melhor dizendo, uma recriação. Tento viver dentro dos biografados e entendê-los, da mesma maneira que o romancista vive dentro de suas criaturas de ficção”, afirma ela. A leitura acaba servindo, também, como uma animada aula de História, já que o leitor é levado ao período em que os relacionamentos ocorreram.
Mas, afinal, quem são os ilustres casais que têm suas intimidades reveladas? Só para citar alguns: Edward e Wallis de Windsor; Leon e Sônia Tolstói; Joana, a Louca, e Felipe, o Belo; Liz Taylor e Richard Burton; Evita e Juan Perón; Marco Antônio e Cleópatra; John Lennon e Yoko Ono; Sissi e o imperador Francisco José. Enfim, paixões de diversos tipos, já que, como a própria autora diz, as paixões são todas iguais, mas ao mesmo tempo diferentes, pois variam o cenário, as necessidades de cada um e a maneira de encarar a felicidade ou a desgraça.
Há também amores duplamente proibidos, como os homossexuais, considerados ilegais durante séculos, casos de Oscar Wilde e lorde Alfred Douglas e de Paul Verlaine e Arthur Rimbaud. Descobre-se que os poetas Verlaine e Rimbaud, aliás, escondiam mentes doentias por trás de seus belos versos. E Joana, a Louca, não era tão maluca quanto diziam. Já Felipe, o Belo, de bonito não tinha nada pelos padrões atuais.
Rosa Montero parece ter mesmo adentrado os bastidores e conta muitos episódios curiosos e desconhecidos pela maioria. Quem se lembra, por exemplo, que Liz Taylor e Richard Burton se apaixonaram logo de cara, em meio à primeira cena tórrida de amor que gravaram para o filme Cleópatra? Nem os gritos de Corta! no set de filmagem fizeram com que o casal se soltasse! Tampouco pode-se imaginar que o duque e a duquesa de Windsor formavam uma dupla bem perigosa, capaz das mais sórdidas tramóias em busca de dinheiro e glória.
Às histórias de paixões avassaladoras narradas pela jornalista, que também escreveu A louca da casa, não faltam finais trágicos. Afinal, como ela conclui, o amor é uma droga muito bela, mas a vida autêntica e miúda começa justamente onde o conto termina. “Mais além do foram felizes para sempre”, completa. “A paixão permanece incrustada no imaginário, é uma fantasia, uma alucinação na qual a pessoa amada é apenas uma desculpa que nos damos para alcançar a emoção extrema do apaixonar-se.” De fato, Paixões é um prato cheio de emoções fortes.